quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Voar

Desde pequena ando de avião, nunca tive medo. E quando digo que não tinha medo, não tinha mesmo. Já viajei em aviãozinho de seis lugares com muita turbulência e tranqüila, 100% segura.

Hoje, quando penso nisso, logo me vem na cabeça: - Nossa, eu era louca, não tinha a noção do perigo, que inconseqüente...

Parece que você tem que se preocupar, que o seu medo ajuda tudo a ficar bem, que se você não prestar atenção no que está acontecendo, está sendo displicente, e o piloto saberá disso, e algo de ruim pode acontecer. Irracionalidades do medo.

Na verdade, meu medo começou há uns três anos, num vôo Curitiba/Porto Alegre. Foi um vôo muito turbulento – mas nada que eu não houvesse enfrentado antes, e bem pior – mas nesse dia tive medo, muito medo. Lembro que na hora que o avião encostou no chão senti um alivio incrível e inédito. Mal sabia que dali para frente sempre sentiria esse alivio no fim da viagem.

Logo depois desse “primeiro medo”, fiz uma viagem de 11 horas sozinha. Senti medo, mas não muito. Quanto maior o avião, menor o meu medo. Eles são mais estáveis e quanto menos balançar, melhor.

Mas na volta dessa viagem, no vôo doméstico, Curitiba/São Paulo, tava uma tempestade gigantesca, daquelas de depois ter centenas de desabrigados, de ver Curitiba de cima e dar uma tristeza de tanta água. Nos últimos 15 minutos de vôo a turbulência começou a ficar séria, só ouvia um senhorinha atrás de mim falar palavras como Deus, Nosso Senhor, prometo, pessoa melhor...

A sensação da chegada nesse dia foi incrível, a melhor.

Depois disso, o medo de avião estava instalado e agora faz parte da minha vida. Eu e minha irmã, que tem muito medo há mais tempo, podemos trocar experiências, falar sobre o assunto e até dar umas risadas.

Semana que vem ela vai para Berlim e eu vou para São Paulo. Hoje cedo chega um e-mail dela dizendo que fica indignada porque sempre um pouco antes dela viajar de avião, acontece algum grande acidente aéreo (ela se referia ao acidente no aeroporto de Barajas, em Madrid), o que a deixa ainda mais nervosa. Sugeri que ela faça como eu:

- Não fique pirando nisso com antecedência, deixe para “se borrar“ só na hora!

É o que eu faço. Jamais vou deixar de fazer uma viagem, mas dificilmente a minha mão não vai suar na decolagem – ao meu ver, o momento de maior tensão. E vamos lá!