Nem lembro quando comecei a roer unha. Tenho a impressão que nasci assim. Mas quando era pequena, roia até o dedo. Lembro de sentir dor na hora de lavar os cabelos, tinha que tentar lavar com a palma da mão de tão machucado que ficavam os dedinhos.
Minha mãe ficava indignada com esse meu hábito. Deve ser horrível ver um filho se machucar desse jeito. E assim como não me lembro quando comecei a roer unha, também não lembro quando foi que minha mãe começou a pedir para que eu parasse. Ela e o meu pediatra me assustavam dizendo que iam passar coco de gato na minha mão e coisas do gênero. Nada adiantava, nunca. Uma vez meu pai foi para a Itália e trouxe um esmalte que tinha gosto ruim. Hoje em dia isso é comum, na época era um “grande advento”, só existia no exterior. É claro que também não adiantou.
Até que um dia, passeando com a minha mãe, vi numa loja uma carteira azul, linda, de nylon e um lindo desenho do Gorpo. É, esse Gorpo mesmo, o best friend do He-Man. Nossa, ela era linda, tinha um velcro gigante que fazia um barulhão na hora de abrir. Tudo!
Pedi para a minha mãe. E lá em casa não era assim: pediu, ganhou. Mas na hora ela disse que compraria. Mas - é óbvio que existia um mas - eu tinha que ficar 15 dias sem roer unha. Ela ia deixar a carteira exposta na cozinha para me estimular e dali duas semanas ia ver a minha mão. Se ela estivesse num estado menos lastimável, a carteira era minha.
Trato feito. Mas não cumprido. Não consegui ficar os 15 dias sem roer unha, continuava no mesmo ritmo, ou até pior. No dia da “análise”, ao olhar a minha mão, minha mãe nem titubeou. Chamou a minha irmã e entregou a carteira para ela. Não acreditei. Achei que ela me daria um novo prazo, mas, com a frieza de uma engenheira russa, encerrou o assunto. A carteira era da minha irmã.
Sofri. Só dependia de mim e não consegui. O pior dessa história, era toda hora ouvir a minha irmã abrindo e fechando aquela carteira, o barulho do velcro da “minha carteira do Gorpo” se tornou um tormento.
Mas, esses dias, lembrando dessa história, fiz uma relação que achei muito interessante. Ganhei um presente da vida por parar de fumar. O amor pela corrida. Dessa vez consegui, e correr é muito melhor que a porcaria de uma carteira do Gorpo...hehe
Ah, parei de roer unha já há alguns anos, naturalmente, sem pressão.
|